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Crentes decepcionados são os novos peregrinos da fé


O pastor Paulo Romeiro, da Igreja Cristã da Trindade, em São Paulo, identifica um novo tipo de cristão evangélico que, juntos, são os peregrinos da religião e constituem o movimento dos sem-igreja. Esse novo tipo de crente é o decepcionado.

"Trata-se de uma pessoa atraída à igreja com a promessa de ficar rica, ser curada e resolver todos os seus problemas. No entanto, depois de algum tempo, ela vê aquelas esperanças frustradas", definiu Romeiro em entrevista para o repórter Carlos Fernandes, da revista Eclésia.

Ao decepcionar-se numa igreja, o crente vai em busca de outra. Nas grandes cidades, detecta Romeiro, há um contingente significativo de evangélicos que circulam, constantemente, de igreja em igreja, constituindo o fenômeno que os sociólogos chamam de "trânsito religioso".

A tese de Romeiro está descrita em trabalho de doutorado em teologia. A tese foi transformada em livro e deverá ser lançado entre abril e maio sob o título Decepcionados com a graça - Esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal, pela editora Mundo Cristão.

O "nômade da fé", descreveu Romeiro na entrevista à Eclésia, busca respostas imediatas aos problemas, "uma vez que vivemos na era da velocidade. Se as respostas não chegam rápido, o sujeito procura uma nova igreja".

E o que essas pessoas que são atraídas às igrejas neopentecostais buscam? Que fiquem ricas, sejam curadas de todo tipo de doença e que todos os seus problemas sejam resolvidos, desde a falta de dinheiro até a falta de emprego. Essas são promessas da teologia da prosperidade, que propõe banir a pobreza, a doença.

O problema não está na prosperidade, mas na teologia, assinalou Romeiro. Para a teologia da prosperidade, o crente "deve morar em mansão, ter carrões, muito dinheiro e nunca ficar doente. Quando isso não acontece, é porque ele está sem fé, em pecado ou debaixo do poder de Satanás", explicou o pastor da Igreja da Trindade.

Romeiro mudou a lógica no argumento: "Ora, se formos avaliar a vida espiritual de uma pessoa pela casa onde mora ou pelo saldo bancário, temos que concluir que muitos jogadores de futebol e artistas têm uma comunhão com Deus fora do comum. E isso não é verdade".

Hoje em dia, analisou o pastor, as pessoas na igreja funcionam na base da emoção, e não pela reflexão. A teologia da prosperidade e todo esse clima de emoção têm forte apoio na mídia, um instrumento que as igrejas neopentecostais sabem trabalhar muito bem.

"Creio que o fator principal que garante a sobrevivência do movimento neopentecostal é o seu investimento pesado na mídia e o seu sucesso em colocar a igreja no mercado e as políticas do mercado na igreja", avaliou Romeiro na entrevista à Eclésia.

Isso ainda vai durar algum tempo, representando crescimento dos principais grupos neopentecostais no Brasil. Mas não têm mais o mesmo ímpeto que tinha no passado.

Romeiro entende que, "na medida em que os adeptos vão se decepcionando com a mensagem e a falta de ética de alguns segmentos neopentecostais, creio que haverá uma volta à Bíblia por parte de muitos. Por isso, as igrejas cristãs devem estar preparadas para receber e ajudar tais pessoas", recomendou.

Na entrevista, Romeiro também questionou o fato de mais e mais pessoas se converterem e a situação da nação brasileira ficar cada vez pior, basta analisar os casos de violência, o tráfico de drogas, que estão "fora do controle das autoridades". Que Evangelho é esse que não afeta a sociedade para melhor nem transforma pecadores em santos? - pergunta.

O neopentecostalismo, definiu, é "vigoroso na sua ação evangelizadora, na capacidade de agrupar pessoas, mas frágil na sua ação disciplinadora".

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